A Voz da Favela

O depoimento a seguir é do vigilante Manoel Messias, nascido e criado no Bode, no bairro do Pina, Zona Sul do Recife, pertinho do mar. A repórter Ciara Carvalho ouviu o relato na semana passada. Ei-lo:

“Não sou especialista em segurança pública. Sequer terminei o segundo grau. Voltei a estudar este ano, depois de muito tempo parado. Estudo numa escola pública, à noite, até as 22h, e depois assumo meu posto de vigilante, num prédio em Boa Viagem. Largo às 5h. Há seis anos, decidi dedicar minhas tardes para reunir os meninos da favela em torno do futebol. Juntamos uns 30.
Todos os dias, pego a garotada e vamos jogar bola nas quadras da Praia do Pina. É uma forma de dizer a eles que o esporte é melhor que as drogas. Sei que é uma iniciativa modesta. Temos apenas uma bola, que está quase rasgando. Nesses anos, tivemos derrotas. Já perdi vários meninos para o tráfico. Mas salvamos outros. Temos vitórias para contar. Não acredito em nenhuma solução para a violência que não dê esperança para quem está com os pés na marginalidade. O que as pessoas querem é ter uma ocupação, um salário no fim do mês.
Um dinheiro para que elas possam comprar o que precisam e desejam. Não é reduzindo a idade penal ou construindo novos presídios que a violência vai acabar. É dando dignidade. Como falar em ser cidadão para um garoto que só come uma vez por dia? Que mora dentro do esgoto? Já deixamos de participar de torneios, porque alguns meninos não tinham sapato. O que leva esses jovens para a criminalidade são os olhos. É a cobiça. É o desejo de ter um celular com câmera digital, um relógio de marca, um tênis da Nike. No mundo onde não se tem nada, essas coisas valem mais do que a vida. A gente precisa começar a responder a pergunta ‘Por que isso está acontecendo? Para quem estamos perdendo essa guerra?’
As autoridades precisam parar para escutar o que a favela está falando. Não é criar um programa que dá cesta básica. O que a gente quer é poder fazer nossas escolhas. É isso que faz das pessoas um cidadão. Dignidade é dar esporte, lazer e trabalho. O governo devia entender que ele não ia perder nada com isso. Ensinar a esses meninos uma profissão, dar a eles uma chance de emprego, uma oportunidade que não seja a das ruas, tiraria a favela da marginalidade que ela vive hoje. Mas, como isso dá mais trabalho, as autoridades preferem fechar os olhos e virar as costas para essa ferida.”

Retirado do site http://pebodycount.com.br/

Será que nós, enquanto cidadãos, ficaremos de braços cruzados e de olhos fechados sempre?
É mudando atitudes que se mudam opiniões!!
É plantando que se colhe.
É sendo "gente" que fazemos gente.

Pensemos nisso.

Por esse é só!!

Comentários

Anônimo disse…
"No mundo onde não se tem nada, essas coisas valem mais do que a vida."Essa frase do texto realmente é chocante.Olha só onde chegamos!Estamos vivendo numa guerra onde uma tão preciosa vida humana é ceifada a troco de um troco,me perdoem o trocadilho.Crianças cujas aspirações são só TER e nunca SER até porque nunca tiveram estrutura familiar alguma,são frutos da violência,do descaso,do desamor.São produtos do meio em que vivem sendo assim vítimas e não culpados.São atitudes como as desse senhor do texto que fazem algumas pessoas despetarem pra esse tipo de problema social sem que precisem serem vítimas dessas já então "vítimas".Vamos fazer nossa parte.

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